Por Felipe Mamone
A imagem popular da internet como uma “nuvem” etérea e imaterial esconde uma realidade oposta: na prática, ela é uma vasta e complexa estrutura física, composta por cabos e edifícios interconectados em pontos-chave do globo. De fato, a quase totalidade do tráfego mundial de dados não atravessa o ar, mas sim o fundo dos mares e os subsolos dos continentes. São os cabos submarinos e subterrâneos de fibra óptica que compõem a porção mais essencial e, ainda assim, a mais oculta de toda a infraestrutura da rede global.
Apesar de seu tamanho e importância cruciais, é surpreendentemente raro encontrarmos visualizações detalhadas dessa infraestrutura, sejam fotografias dos cabos ou mapas precisos que revelem sua localização e propriedade.
Nesse cenário, uma iniciativa como a Infrapedia se destaca. Este mapa interativo, construído de forma colaborativa (crowdsourcing), se dedica a detalhar a infraestrutura física da internet em escala global, abrangendo desde os centros de dados até os cabos que os ligam.
Mais do que uma simples visualização, a Infrapedia fornece informações valiosas para pesquisadores, como a empresa — ou o país — que é proprietária dos cabos, as referências utilizadas para obter os dados e até mesmo a extensão total de cada uma dessas obras de engenharia. O acesso a esses dados permite ir além da superfície do mapa, focando na economia política que define a rede: quem detém o controle físico do tráfego global e quais são as implicações geopolíticas desse domínio.
Em solo nacional, também podemos citar o site Cartografias da Internet. Esta plataforma brasileira, desenvolvida pela organização Coding Rights, reúne características materiais e geopolíticas em uma visualização crítica, global e – por que não – divertida da rede que nos conecta.
Fica claro, portanto, que mapear a internet é um ato político. Essas ferramentas transformam a “nuvem” em chão, expondo os alicerces e quem os comanda. Elas revelam que por trás de cada clique e de cada dado transmitido existe uma estrutura com proprietários e interesses definidos. Ao fazerem isso, provam de forma contundente que a decisão de manter essa infraestrutura longe dos olhos do público não é acidental, mas uma escolha estratégica que molda o poder no século XXI.
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