Criado em 2008 pela artista e fotógrafa Lucero González, o MUMA – Museo de Mujeres Artistas Mexicanas – é uma instituição pioneira no campo da museologia feminista virtual na América Latina. Concebido como um espaço de memória e reconhecimento, o museu nasceu da constatação de uma lacuna persistente: a escassa presença de mulheres na história oficial da arte mexicana e a ausência de um arquivo integral que documentasse suas trajetórias. Reunindo acervos visuais, textuais e teóricos, o MUMA busca tornar visível uma genealogia artística e política que, por décadas, foi relegada às margens das instituições culturais. Sua missão é clara: fazer a memória das mulheres mexicanas nas artes visuais a partir do século XX, oferecendo ferramentas de pesquisa, reflexão e diálogo que aproximem criadoras, pesquisadoras e público.
Totalmente online e de acesso livre, o MUMA propõe uma nova forma de museografia, onde a exposição é também ensaio e arquivo, e o arquivo, por sua vez, se transforma em campo de reinterpretação crítica. Sua plataforma interativa apresenta mais de uma centena de artistas em ordem alfabética, com biografias, registros de obras, textos curatoriais e ensaios teóricos que articulam questões de gênero, corpo, linguagem e poder. Esse formato faz do museu não apenas um repositório de imagens, mas um espaço vivo de circulação de ideias. Inspirado por perspectivas feministas e pelos estudos de gênero, o MUMA amplia o campo da arte mexicana ao promover a revisão de narrativas, a expansão do cânone e o diálogo entre gerações. O museu também mantém um conselho consultivo formado por artistas, historiadoras e curadoras, que se reúne anualmente para definir diretrizes e organizar exposições virtuais e itinerantes em instituições parceiras no México e no exterior.
Suas exposições online traduzem a convicção de que o acesso é uma prática política e que o arquivo, quando ativado, pode operar como gesto de resistência e reescrita histórica. Mostras como Evidencias, de Lorena Wolffer, em que objetos usados em atos de violência contra mulheres foram convertidos em testemunhos públicos. Essa mesma linha se prolonga na exposição atual, Suspender el control, curada por Ingrid Hernández, que propõe observar a crise climática desde suas manifestações mais sutis. As obras de Eréndira Gómez, Jessica Sevilla, Elizabeth Moreno Damm, Andrea Carrillo Iglesias e o Archivo Familiar del Río Colorado revelam uma ecologia afetiva e política, onde os gestos de cuidado e escuta se opõem às lógicas de dominação e extração. A curadoria, articulando arte, território e feminismo, reinscreve o debate ambiental em uma chave ética e sensorial, fazendo eco à vocação do MUMA de pensar a arte como campo de interdependência.
Mais que um museu virtual, o MUMA atua como uma rede de pensamento e afeto, conectando práticas artísticas e discursivas em torno da pluralidade das experiências femininas e dissidentes no México. Sua proposta curatorial e pedagógica parte do princípio de que a visibilidade é um ato transformador, e que revisitar as obras, documentos e histórias de mulheres artistas é também imaginar futuros possíveis. Em diálogo com outras plataformas e arquivos feministas, o museu reafirma seu compromisso com a diversidade cultural, o respeito e a inclusão, reconhecendo o valor das mulheres na construção da arte e da sociedade contemporânea.
Conheça: https://www.museodemujeres.com