O arquivo do futuro e o futuro do arquivo

Desafios e possibilidades dos arquivos digitais: refletindo sobre a organização dinâmica de conteúdos culturais e a intervenção editorial em sistemas de automação 

o arquivo do futuro em ilustração feita no DALLE-2

O arquivo digital não se limita a ser um espaço de armazenamento de documentos. Ele é um arquivo mutante, que não apenas guarda, mas cria arquiteturas para que o usuário possa performar e interagir com os conteúdos.[1]

O modelo de catalogação dos museus foi levado sem questionamento para o meio digital. Contudo, na internet o objeto é enrredado e conectado a outras informações, o que pode tornar difícil a sua organização em um repositório digital.

Assim, documentar hoje em dia é questionar a lógica de um repositório digital estático e pensar em ecossistemas de organização dinâmicos, com possibilidades de absorver links públicos e das redes sociais, tornando-se um lugar de encontro para pessoas e conteúdos.

Nesse sentido, o arquivo digital permite contar outras histórias da arte, além das já conhecidas. Ele pode ser um espaço de experimentação e interação com as obras, possibilitando novas interpretações e formas de apreciação. Para tanto, é preciso repensar a lógica dos repositórios digitais estáticos e investir em sistemas flexíveis.

Um arquivo dinâmico estruturado a partir das conexões com modelos de IA pode ser um ponto de partida para o modelo de plataforma que queremos desenvolver, incorporarando, por exemplo, funcionalidades presentes nos GLAMs da Wikipedia, que permitem aos usuários visualizar as conexões e apropriações que os conteúdos encontraram ao longo do tempo.

Desafios

Uma das formas de dar visualidade aos conteúdos é por meio de métodos Warburguianos, que buscam pelos elementos das imagens e exploram as suas conexões com outras obras e contextos. Algoritmos como o MosAIc podem ser utilizados para encontrar semelhanças e conexões entre imagens aparentemente desconectadas, gerando novas interpretações e possibilidades de apreciação.

No entanto, é importante lembrar que a visualidade dos conteúdos não se limita apenas à sua representação gráfica. Ela também está relacionada à forma como os conteúdos são organizados e disponibilizados para o público. Por isso, é importante investir em arquiteturas dinâmicas e flexíveis, que permitam aos usuários explorar os conteúdos de forma personalizada e adaptada às suas necessidades e desejos.

Apesar das vantagens do uso de IA para a organização de arquivos e conteúdos culturais, existem diversos desafios a serem enfrentados. Um dos principais é o “darwinismo dos dados”, que se refere ao processo de seleção e valorização dos dados que ocorre dentro dos algoritmos de IA. É preciso entender como a máquina entende e intervir editorialmente no sistema dinâmico de automação para evitar que os algoritmos reproduzam preconceitos e discriminações presentes na sociedade.

Além disso, as lógicas dos modelos proprietários de IA podem interferir nas categorias que criamos e limitar a forma como os conteúdos são organizados e disponibilizados. É importante pensar em ferramentas que possam ser implementadas para identificar dados enviesados e corrigir essas distorções.

Outro desafio é como pensar a catalogação de uma documentação por fazer. É possível pensar em um arquivo que parta da recusa do armazenamento e que privilegie a dinamicidade e a flexibilidade, mas isso significa abrir mão da conservação no processo de gestão. Esse é um princípio contestado por Hal Foster em “The Archives Without Museums“, que argumenta que é importante preservar e conservar os arquivos para garantir a continuidade histórica e a memória cultural.

Portanto, é necessário encontrar um equilíbrio entre o dinamismo e a conservação, pensando em arquiteturas flexíveis e adaptáveis que permitam a personalização da experiência do usuário, mas que também garantam a preservação e a continuidade histórica dos conteúdos. É importante investir em ferramentas que possam identificar dados enviesados e corrigir as distorções, além de intervir editorialmente no sistema de automação para evitar a reprodução de preconceitos e discriminações.

 

Notas

1 Texto redigido pelo ChatGPT a partir da síntese da Reunião do dia 27/02/2023, com a presença de Ana Gonçalves Magalhães, Dalton Martins, Eduardo Augusto Costa, Giselle Beiguelman, Heloisa Espada, Paula Perissinotto, Priscila Arantes, Renata Padilha, Renata Perim. Edição e revisão: Giselle Beiguelman.