Domingo no Golpe (documentário)

Domingo no Golpe é um documentário “Ready Media” Giselle Beiguelman e Lucas Bambozzi sobre a tentativa de golpe de Estado ocorrida em 8 de janeiro de 2023. A definição, alude a obras em que os autores mais chamam a atenção para o que já existe, do que criam algo totalmente novo. É o caso deste documentário, que foi inteiramente produzido com as imagens das câmeras de segurança do Palácio do Planalto.

Essas imagens foram disponibilizadas à imprensa pelo GSI (Gabinete de Segurança Institucional), por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF) em abril de 2023. A narração foi criada a partir de trechos do relatório final da CPMI dos Atos de 8 de Janeiro, divulgado em 17 de outubro de 2023, lido pela senadora Eliziane Gama (relatora).

Domingo no Golpe aborda um 8 de janeiro que não começou há um ano e, todavia, não terminou, segundo o pronunciamento da relatora, que funciona como um fio condutor da narrativa. O documentário teve uma um corte inicial previamente disponibilizado ao público no dia 08 de janeiro de 2024, pela internet.

Conceitos e linguagens

Stills de Domingo no Golpe. Imagens dos vídeos das câmeras de segurança do Palácio do Planalto registradas pelas câmeras de vigilância do GSI e disponibilizadas à impresa por ordem do STF.

A ideia de se fazer o lançamento definitivo por ocasião da data em que se completam 60 anos do Golpe de 1964, reflete sobre as continuidades entre esse e outros acontecimentos similares recentes. A sugestão de que a história dos atentados contra a transformação social são um contínuo na história brasileira, em atos nem sempre democráticos, por parte das elites brasileiras, está em uma das falas de Darcy Ribeiro, uma das vozes que conduzem o documentário.

Um outro aspecto comentado pelo documentário Domingo no Golpe é a configuração do traçado previsto para a cidade de Brasília, refletindo os poderes constituídos. Na fala de Lúcio Costa, também presente do documentário, a idéia foi “criar uma praça triangular equilátera, porque os três poderes teoricamente têm o mesmo peso”. O que vemos, no entanto, é uma clara intenção de ataque não apenas aos poderes representados, mas também aos símbolos da cultura republicana e democrática.

Assista outros trialers

Lucas Bambozzi comenta que o trabalho é uma busca semiótica por momentos representativos do que foi o Domingo de 08 de janeiro de 2023:

“Em operações manuais de avanço, aceleração e pausa, identificamos pontos e momentos precisos, em uma lógica estética que reflete articulações de imagens conhecidas nos anos 1980 como scratch video, entre a velocidade voraz, o slow motion e o still, numa busca por personagens, ações e expressões faciais que refletem cinismos, ignorâncias, ingenuidade e violências, como momentos significantes em cada clip das 33 câmeras a que tivemos acesso”, diz Lucas.

Stills de Domingo no Golpe. Imagens dos vídeos das câmeras de segurança do Palácio do Planalto registradas pelas câmeras de vigilância do GSI e disponibilizadas à impresa por ordem do STF.

Já Giselle Beiguelman destaca que o documentário revela não só pontos de vista inusitados sobre Brasília, dados pelas câmeras de segurança, mas também a fragilidade da noção de espaço público, de bem comum entre nós.

“A capital que se vê no documentário não é a da imponência modernista das construções de Niemeyer e da utopia do urbanismo de Lucio Costa, mas um território de agressões ao patrimônio público. São ataques indiscriminados e violentos contra a arquitetura, as obras e todo e qualquer objeto. Há uma espécie de frenesi da destruição que implicitamente supõe que o que é público é de ‘ninguém’ e, sendo assim, você pode ir lá e fazer o que você quiser. Mas o espaço público é exatamente o contrário disso. É exatamente por se público que é negociado, princípio que é um dos pilares da compreensão sobre o que é a democracia”, afirma Giselle.

Lucas e Giselle destacam ainda que o documentário apresenta também uma sui generis arqueologia das câmeras de vigilância, já que as quase 800 horas de vídeo que registraram o ataque ao Palácio do Planalto em 8 de janeiro, a partir de 33 diferentes pontos, são de épocas, sistemas e qualidades muito diferentes entre si. Preservar e dar nitidez a essa variedade de linguagens de registros levou os artistas a optarem por não homogeneizar, via tratamento de imagens, seu colorido, nem mascarar seus intermitentes “bugs”, ruídos e distorções.

O título do documentário nasceu do inusitado das imagens, em que os golpistas aparecem com cadeiras de praia, camisetas da CBF e uma parafernália de símbolos pátrios revisitados, num clima de domingão, no qual o grande programa não era ir ao parque, mas ao golpe. Rever essas imagens implica pensar nos vários ataques à democracia brasileira e as formas de resistência a esse atentados.

Para imagens de divulgação e contatos para exibição, escreva para: acervosdigitais [at] usp [dot] br

Anarquivamentos

O seminário “Neo-decolonilidades: Anarquivamento”, apresentado pela Pesquisadora Milena Szafir, discutiu o conceito de anarquivamento, explorando a ideia de destruição e regeneração de arquivos como uma forma de desafiar identidades e narrativas dominantes. Foram abordados temas como a reciclagem de materiais culturais, a importância da subversão e a relação entre arquivos e identidade. Também foi apresentado um protótipo de interface online para trabalhar com arquivos audiovisuais e projetos de artistas anarquivadores ao longo da história das artes visuais e do cinema.

Texto-base:

Texto-base da discussão: “Acerca do Anarquivamento”. Em: WALTER BENJAMIN E A GUERRA DE IMAGENS – Márcio Seligmann- Silva, cap. 2, pp. 19-43. Versão online preliminar: https://www.researchgate.net/publication/328649389_Sobre_o_anarquivamento_-_um_encadeamento_a_partir_de_Walter_Benjamin

Referências comentadas no seminário:

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Aline Motta: A água é uma máquina do tempo. , 2020. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=-Br6IvsZPkM>. Acesso em: 27 fev. 2024

Anais de Textos Completos do XIX Encontro Socine. [s.l.] Socine, 2016.

ARANTES, P. Reescrituras da Arte Contemporânea. 1a edição ed. [s.l.] Sulina, 2015.

Architecture et archives numériques. Disponível em: <http://www.citedelarchitecture.fr/fr/publication/architecture-et-archives-numeriques>. Acesso em: 27 fev. 2024.

BEIGUELMAN, G. Impulso historiográfico. São Paulo: Peligro Edições, 2019. Disponível em: https://www.desvirtual.com/project/impulso-historiografico/

Brasil – Hack your culture. Disponível em: <https://www.goethe.de/prj/hyc/pt/bra.html>. Acesso em: 27 fev. 2024.

BREAKELL, S.; RUSSELL, W. (EDS.). The Materiality of the Archive: Creative Practice in Context. [s.l.] Taylor & Francis, 2024.

COSTA, E. A. Mudanças epistemológicas na arquitetura: entre arquivos, exposições e publicações. Revista Estudos Históricos, v. 34, n. 72, p. 129–147, 26 jan. 2021.

DERRIDA, J. Mal De Arquivo Uma Impressão Freudiana. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2001. Disponível em: http://archive.org/details/DERRIDAJaqcuesMalDeArquivoUmaImpressoFreudiana_201605

Entrevista com Paulus Gerdes |. Disponível em: <http://www.labeduc.fe.usp.br/?videos=paulus-gerdes>. Acesso em: 27 fev. 2024.

FOSTER, H. An Archival Impulse. October, v. 110, p. 3–22, out. 2004.

GERDES, P. Geometria dos trançados bora na Amazônia peruana. 1a edição ed. [s.l.] Editora Livraria da Física, 2011.

GERDES, P. Viver a Matemática Desenhos de Angola. [s.l.] Edições Humus, 2013.

Instituições da USP abrem seus acervos para maratona cultural. Disponível em: <https://jornal.usp.br/cultura/instituicoes-da-usp-abrem-seus-acervos-para-maratona-cultural/>. Acesso em: 27 fev. 2024.

Livro Etnomatemática – Elo entre as tradições e a modernidade da Autêntica Editora. Disponível em: <https://grupoautentica.com.br/autentica/etnomatematica_-_elo_entre_as_tradicoes_e_a_modernidade/1737>. Acesso em: 27 fev. 2024.

MANOVICH, L. Database as Symbolic Form. Em: VESNA, V. (Ed.). Database Aesthetics. Art in the Age of Information Overflow. NED-New edition ed. [s.l.] University of Minnesota Press, 2007. v. 20p. 39–60.

MATIENZO, M. A. On anarchivism: perpetuating the postmodern turn within archival thought. 2002.

Museu Bispo do Rosário – Arte contemporânea. , [s.d.]. Disponível em: <https://museubispodorosario.com/>. Acesso em: 27 fev. 2024

Paulus Gerdes. Disponível em: <http://www2.fe.usp.br/~etnomat/site-antigo/anais/PaulusGerdes.html>. Acesso em: 27 fev. 2024.

Professor Ubiratan D’Ambrosio uniu matemática, educação e busca por justiça social. Disponível em: <https://www.unicamp.br/unicamp/noticias/2021/05/13/professor-ubiratan-dambrosio-uniu-matematica-educacao-e-busca-por-justica>. Acesso em: 27 fev. 2024.

ROLLET, S. (Re)atualização da imagem de arquivo: ou como dois filmes de Harun Farocki conseguem “anarquivar” o olhar. Revista Eco-Pós, v. 17, n. 2, 2014.

#streamengramas de uma revolução .77b. , 21 nov. 2016. Disponível em: <https://vimeo.com/192542307>. Acesso em: 27 fev. 2024

SZ, M. TOWARDS THE CLOUDING AUDIOVISUAL AESTHETICS [v.8. [s.d.].

VERAS, L. (ED.). Abre-te Código. São Paulo: Goethe-Institut, 2020.

ZYLINSKA, J. AI Art: Machine Visions and Warped Dreams. [s.l.] Open Humanites Press, 2020.

REPOSITÓRIOS DIGITAIS 2.0: DOS OBJETOS DIGITAIS ESTÁTICOS AOS ECOSSISTEMAS DE INFORMAÇÕES DINÂMICAS

Neste seminário de pesquisa, ministrado pelo Prof. Dr. Dalton Lopes Martins, Pesquisador Associado do nosso Projeto Temático, argumenta-se que o Arquivo Digital não deve mais ser pensado apenas como um lugar para depositar arquivos estáveis de mídia digitalizada, mas sim um sistema de informação que funcione como um mapa de redes dinâmicas de circulação da informação do patrimônio cultural.

Para tanto, Dalton Martins propõe um sistema de informação que abra espaço para a curadoria por múltiplas vozes, diferentes visões e proponha ao museu uma posição de articulador de redes e visões a respeito do patrimônio cultural. Um sistema de informação que facilite a sistematização de diferentes vozes, divergência, debate e facilite o uso de algoritmos de inteligência artificial generativa para dar apoio a novas dinâmicas de produção de informação e metodologias de documentação de objetos.

Pesquisa por cores

Renata Perim

A proposta de implementação de uma busca por cores tem inspiração no Cooper Hewitt Museum, que em 2013 aplicou a ferramenta de análise de cores nas obras do acervo online. Basicamente, o mecanismo funciona a partir de uma ferramenta que extrai até cinco cores predominantes de cada imagem, então, essas cores são calculadas e “encaixadas” no espectro de cores CSS3

Captura de tela dos resultados da busca por cores no site do Cooper Hewitt
Captura de tela dos resultados da busca por cores no site do Cooper Hewitt

A ideia era possibilitar que cada imagem apresentasse sua paleta de cores e, ao clicar em cada cor, seria possível encontrar outras imagens de cores semelhantes. Hoje, essa funcionalidade não está disponível no site do museu, sendo possível somente ver a paleta de cores de algumas imagens. O que me pareceu interessante nesse trabalho é ter a noção de que existem muitas paletas de cores disponíveis para incrementar essa funcionalidade de navegação em sites de museus.

Outras implentações

A pesquisa por cor do Art Institute of Chicago é um trabalho mais recente (implementado em 2019). A equipe desenvolveu um código que seleciona as cores dominantes de cada objeto automaticamente, isso significa que em cada item inserido no site o algoritmo já identifica suas cores predominantes. Do ponto vista da experiência do usuário, o site apresenta uma boa usabilidade, sendo muito rápido chegar até a seleção de cores. No menu lateral há uma rica variedade de filtros e dentre eles a roda de cores (que me lembrou o site Adobe Color Wheel). Na proposta do Art Institute of Chicago, não vemos a paleta de cores de cada obra, mas como uma cor selecionada está presente em obras de diferentes períodos e artistas. Inclusive, esse foi um ponto positivo destacado na fase de testes de implementação da ferramenta.

A pesquisa por cor está presente em outros sites de museus, como Barnes Foundation e M+, além do Google Arts and Culture. A ideia aqui é destacar esses links para uma pesquisa futura e, quem sabe, possível implementação em nosso projeto.

Por Renata Perim

Referências:

Site do Cooper Hewitt com uma obra em destaque:

https://collection.cooperhewitt.org/objects/18482923/

Post do Cooper Hewitt Lab sobre a ferramenta:

https://labs.cooperhewitt.org/2013/giv-do/

Site do Art Institute of Chicago com uma cor slecionada:

https://www.artic.edu/collection?color=34-94-57&angle=51-270

Texto do Art Institute of Chicago sobre a ferramenta:

https://www.artic.edu/articles/759/the-color-of-serendipity-searching-with-the-color-wheel

Barnes Foundation:

https://collection.barnesfoundation.org/

M+:

https://www.mplus.org.hk/en/collection/

Google Arts&Culture:

https://artsandculture.google.com/color?col=GREEN

Acervos em movimento: Documentação social, IA e Curadoria colaborativa

Catalogação é uma prática essencial para lidar com a documentação social. Com o avanço das tecnologias digitais, a catalogação pode ser aprimorada e diversificada, permitindo a participação ativa de pessoas de diferentes perfis, o uso de inteligência artificial e a colaboração entre diferentes instituições

Partial map of the Internet based on the January 15, 2005
Partial map of the Internet based on the January 15, 2005. Wikimedia

A documentação registrada em arquivos oficiais geralmente é produzida por instituições governamentais, empresas ou outras entidades com poder institucional e autoridade para documentar eventos e processos importantes. Esse tipo de documentação é geralmente formal, focado em questões legais, e muitas vezes limitado ao que é considerado relevante para essas instituições. [1]

Já a documentação social é produzida por indivíduos e comunidades em seu cotidiano, muitas vezes sem uma preocupação formal com a documentação e pode ser encontrada em fotos, vídeos, postagens em redes sociais e outros materiais criados e compartilhados . Esse tipo de documentação fornece um registro mais diverso, incluindo perspectivas e vozes que podem ser ausentes na documentação oficial. A documentação social também pode ser usada para desafiar ou complementar a documentação oficial e fornecer múltiplas visões de um evento ou processo.

Casos de estudo e possibilidades

Um exemplo interessante de catalogação via crowdsourcing é o projeto “By the People” da Biblioteca do Congresso dos EUA. Esse projeto permite que voluntários ajudem a transcrever e marcar manuscritos históricos, tornando esses documentos mais acessíveis, plurais e pesquisáveis.

Outro exemplo de catalogação inovadora é a iniciativa do Metropolitan Museum de Nova York, em parceria com a Microsoft e o MIT, que promoveu um hackathon para desenvolver ferramentas de acesso e uso de sua coleção de arte. Esse evento resultou em soluções criativas e tecnologicamente avançadas para a catalogação e visualização de obras de arte.

O uso de inteligência artificial também vem sendo cada vez mais explorado na catalogação de obras de arte, como é o caso do Harvard AI Explorer. Usando inteligência artificial, os Museus de Arte de Harvard coletaram 39.388.699 descrições, cobrindo 266.309 imagens de obras de arte. As descrições variam do reconhecimento de objetos à análises faciais para prever gênero, idade e emoções nas imagens. Esses dados revelam como as IAs interpretam pinturas, fotografias e esculturas, possibilitando outras formas de compreensão dessas obras.

Outra possibilidade interessante que aventamos no nosso grupo, na direção de expandir a catalogação das obras, é a inclusão de dados do Google Maps, que nos permitiriam, por exemplo, identificar quantas vezes uma obra foi fotografada por visitantes e em quais locais. Essas informações geradas coletivamente podem voltar para a plataforma de catalogação, enriquecendo ainda mais a documentação social.

A inserção de dados na Wikipédia também pode ser uma estratégia eficaz para a catalogação, pois permite, a partir dos verbetes,  estabelecer relações com arquivos análogos através de APIs. No entanto, é importante ressaltar a escassez de informação sobre a Arte Digital brasileira na Wikipedia, o que torna ainda mais relevante a inclusão de dados nessa plataforma para operacionalizar o acesso a essas informações.

Além disso, pensamos que eventos imersivos em coleções de arte, a partir de listas curatoriais feitas pelos museus, podem ser uma oportunidade para a catalogação de obras e a contextualização de sua história e trajetória. Contudo, é necessário criar um ecossistema capaz de equacionar um gradiente de propostas curatoriais, que se abra para outras ramificações não previstas.

Por fim, vale mencionar, como estratégia de catalogação otimizada para a Internet, o site do MoMA, que é uma referência em catalogação de obras de arte e oferece uma ampla variedade de informações e recursos para pesquisadores, curadores e interessados em geral. Através do seu site, é possível acessar informações detalhadas sobre a coleção, exposições passadas e presentes, além de recursos educacionais e ferramentas de pesquisa.

A gestão de acervos aprimorada pelas IAs Generativas

A evolução da tecnologia e da inteligência artificial tem trazido uma nova perspectiva para a gestão de acervos culturais. Instituições como o Cleveland Art Museum e o Cooper Hewitt estão utilizando ferramentas inovadoras para agregar mais informações e contextos às obras presentes em seus acervos.

O Cleveland Art Museum, por exemplo, possui uma busca integrada ao Bing que carrega informações das redes sociais e outras fontes aos objetos do acervo. Já o Cooper Hewitt permite a navegação por cores no acervo, além de cruzar informações, como data de aquisição para gerar curadorias de seu acervo.

Outra possibilidade que antevemos é a inclusão de informações da Wikipédia/Wikimedia nas obras e na biografia dos artistas, a fim de enriquecer a contextualização e fornecer mais referências aos interessados. Seria importante também, ligar as obras aos discursos críticos sobre elas, disponíveis online, a partir do Google Scholar e Academia.edu. Uma estratégia desse tipo foi usada no site do VideoBrasil, ainda que a partir de buscas internas no seu acervo, mas com base em uma curadoria de tags inovadora.

É importante questionarmos como incluir discursos críticos não canônicos e fugir do formalismo institucional, incorporando leituras das exeposições feitas por profissionais da limpeza e seguranças.

Um grande desafio, que gera muita dúvidas diz respeito sobre como criar um ambiente que preserve o rigor contextual e, ao mesmo tempo, a anarquia dos dados. Outro desafio a enfrentar em um modelo de gestão baseado em IAs é evitar o darwinismo dos dados, que tende a reforçar condicionantes de poder.

A gestão de acervos baseadas em IAs generativas é uma tendência que poderá transformar os processos de documentação e preservação da cultura. Ainda há muito a explorar, mas é inegável que as possibilidades de enriquecimento e democratização do acesso ao patrimônio cultural são imensas.

Curadoria colaborativa e acesso à informação em plataformas online de acervos

A curadoria de acervos feita pelo público está se tornando cada vez mais viável com o acesso às plataformas on-line, que oferecem recursos avançados de visão computacional para navegação no acervo. Duas plataformas que se destacam nesse sentido são o MosAIc e o British Museum. O MosAIc oferece recursos avançados de visão computacional para navegação no acervo, permitindo que o usuário possa explorar obras de arte de uma forma mais imersiva e interativa. Já o British Museum possui uma interface de acesso ao acervo que permite diferentes navegações cruzadas via cronologia e conteúdos.

Importante ressaltar que muitos sites utilizam sistemas de indicação de obras semelhantes, seguindo um modelo pautado pelas estratégias de e-commerce, onde um produto indica outros produtos relacionados. No entanto, no campo das artes, a aproximação baseada em palavras-chave pode reforçar hegemonias correntes no campo das artes e apropriações que reforcem discursos de ódio.

Uma forma de evitar isso é criar sistemas parasitários que possam comparar diferentes perspectivas acerca dos verbetes. O Search Atlas é um exemplo disso, pois permite que o usuário possa comparar diferentes resultados de busca em diferentes plataformas, evitando assim discursos de ódio e reforçando a pluralidade de perspectivas.

Outra alternativa que nos parece mais rigorosa e promissora é a introdução de sugestões automáticas de obras pesquisadas por outras pessoas que acessaram um determinado resultado, como faz o Metropolitan Museum de Nova York, indicando um uso mais crítico e criativo das inteligências distribuídas nas redes.

Notas

[1]  Texto redigido pelo ChatGPT, elaborado a partir das notas da reunião do projeto temático Fapesp LinCar, realizada no dia 21/03/2023, com a presença de: Ana Magalhães, Bruno Moreschi, Dalton Martins, Giselle Beiguelman, Heloisa Espada, Paula Perissinotto, Priscila Arantes, Renata Perim. Edição final: Giselle Beiguelman

Leituras relacionadas

BISCHOFF, K. et al. Can all tags be used for search? Proceedings of the 17th ACM Conference on Information and knowledge management. Anais…: CIKM ’08.New York, NY, USA: Association for Computing Machinery, 26 out. 2008. Disponível em: <https://doi.org/10.1145/1458082.1458112>. Acesso em: 22 mar. 2023

DZIEKAN, V.; PROCTOR, N. From elsewhere to everywhere: Evolving the distributed museum into the pervasive museum. Em: The Routledge handbook of museums, media and communication. New York/ London: Routledge, 2018. p. 177–192.

ECONOMOU, M. Heritage in the Digital Age. Em: A Companion to Heritage Studies.  John Wiley & Sons, Ltd, 2015. p. 215–228. <https://doi.org/10.1002/9781118486634.ch15>

LIMA, L. P. B. (ED.). INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL NA CULTURA: IMPLICAÇÕES PARA A DIVERSIDADE DE EXPRESSÕES CULTURAIS. 2022. http://www.enecult.ufba.br/modulos/submissao/Upload-607/139278.pdf

Opportunities and challenges of artificial intelligence technologies for the cultural and creative sectors – Publications Office of the EU. Disponível em: <https://op.europa.eu/en/publication-detail/-/publication/359880c1-a4dc-11ec-83e1-01aa75ed71a1/language-en>. Acesso em: 22 mar. 2023.

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SIEBRA, S. A.; BORBA, V. R.; LIMA, M. G.; MIRANDA, M. K. F. O.; TAVARES, L. L. L.; OLIVEIRA, J. N. N. Curadoria digital: além da questão da preservação digital. Disponível em: http://hdl.handle.net/20.500.11959/brapci/185246. Acesso em: 22 mar. 2023.

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TRANT, J.; WITH THE PARTICIPANTS IN THE STEVE. Exploring the potential for social tagging and folksonomy in art museums: Proof of concept. New Review of Hypermedia and Multimedia, v. 12, n. 1, p. 83–105, jun. 2006. <https://doi.org/10.1080/13614560600802940>

VLIET, H. VAN; HEKMAN, E.  Enhancing user involvement with digital cultural heritage: The usage of social tagging and storytelling. First Monday, 21 abr. 2012. <https://firstmonday.org/ojs/index.php/fm/article/view/3922/3203>

Webinário “Curadoria em debate: a pesquisa em museus universitários”. Disponível em: <https://sites.usp.br/ciclocuratorial/webinario-curadoria-em-debate-a-pesquisa-em-museus-universitarios/>. Acesso em: 22 mar. 2023.