QUEERING THE MAP

Rian Souza

Você já imaginou um mapa dedicado exclusivamente às experiências vividas pela comunidade LGBTQIA+? Queering the Map configura-se como um projeto de contra-mapeamento voltado à documentação digital da vivência queer em sua relação com o espaço físico. A plataforma fornece uma interface para arquivar colaborativamente a cartografia da memória queer, de bancos de parque ao meio do oceano, a fim de preservar histórias e realidades em desenvolvimento, que continuam a ser invalidadas, contestadas e apagadas.

De ações coletivas a histórias de revelação, encontros com violência a momentos de amor arrebatador, o Queering the Map funciona como um arquivo vivo da vida LGBTQIA+. Desde o seu lançamento em 2017, o arquivo tornou-se o lar de mais de 850.000 histórias de vida queer e trans, em 28 idiomas, de todo o mundo. O projeto recebeu uma Menção Honrosa no Prix Ars Electronica 2018 e faz parte do arquivo LGBT Web Studies da Biblioteca do Congresso.

Criada por Lucas LaRochelle, designer e pesquisador de Montreal, no Canadá, a plataforma foi lançada em 2017 como parte de uma iniciativa voltada à documentação e visualização de experiências LGBTQIA+ relacionadas ao espaço geográfico. O projeto foi desenvolvido por LaRochelle durante sua formação na Concordia University, integrando práticas de design, estudos queer e tecnologias digitais. A proposta consistiu na criação de um espaço colaborativo online que permite a indivíduos de diferentes partes do mundo compartilhar relatos pessoais vinculados a locais específicos.

Nesse contexto, o arquivo funciona como uma prática de contra-mapeamento, compreendida enquanto estratégia crítica que desafia as narrativas hegemônicas a respeito dos usos e significados atribuídos aos espaços públicos e privados. Dessa forma, consolidou-se como uma referência internacional no campo do arquivamento comunitário queer.

De acordo com LaRochelle, queerizar o espaço consiste em evidenciar os limites das realidades sociais vigentes, que frequentemente falham em considerar, de forma adequada, a segurança e o bem-estar de corpos dissidentes cujas identidades se cruzam em interseccionalidades complexas. Esses espaços de possibilidade são frequentemente efêmeros e são produzidos por meio de ações que negociam e resistem às estruturas de poder dominantes que trabalham para sua erradicação. Dessa forma, não é tanto o espaço que é queer, mas sim as ações que ocorrem dentro dele que o tornam como tal.

Apesar de sua natureza efêmera, as ações de resistência queer não se dissipam completamente após sua realização, ao contrário, elas permanecem como traços latentes que podem funcionar como mapas afetivos orientados por um horizonte utópico queer. Um olhar fugaz de reconhecimento entre corpos dissidentes, uma fotografia capturada no banheiro de uma biblioteca, uma conversa virtual com uma paquera anônima pelo celular, todos esses momentos, configuram-se como lugares de refúgio e significação. Ao serem inscritos no espaço público digital do Queering the Map, esses fragmentos de experiência tornam-se passíveis de reinscrição por outras subjetividades que ali transitam. Portanto, o ato de arquivar não apenas preserva a memória, mas também a repolitiza, permitindo que esses espaços sejam continuamente habitados, revisitados e ressignificados no presente.

O Queering the Map, sobretudo, expande as possibilidades de convergência entre design, tecnologia e estudos queer, configurando-se como um campo fértil para investigações multidisciplinares. Ao fomentar a emergência de subjetividades dissidentes e a produção de novas visualidades, contribui significativamente para a fabricação de outras epistemologias da memória e estéticas da dissidência.

CONHEÇA

https://www.queeringthemap.com

https://www.instagram.com/queeringthemap

https://lucaslarochelle.com