VEM AÍ: Repositório de Línguas Indígenas na Internet

Bruna Keese

Foi lançado nesta última terça-feira o Centro de Documentação de Línguas e Culturas Indígenas, uma iniciativa do Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE-USP) e do Museu da Língua Portuguesa (MLP) com o financiamento da FAPESP.

Embora o Brasil seja um dos países com maior diversidade linguística do mundo, onde vivem 305 povos indígenas, essa variedade cultural é pouco conhecida por grande parte da população. Além disso, muitas comunidades enfrentam dificuldades para preservar suas línguas e culturas.

Com a intenção de reconhecer, valorizar e documentar as mais de 175 línguas indígenas faladas no país, a iniciativa busca aliar tecnologias digitais à antropologia e à linguística, possibilitando que esses saberes sejam protegidos. A formação de novas coleções digitais, em parceria com pesquisadores indígenas, representa ainda a preservação de patrimônios ameaçados. 

A documentação será abordada como uma série de ações que visam o registro organizado e intencional de informações por meio de ferramentas como fotos, vídeos, gravações de áudio, textos, mapas, expressões gráficas e objetos. A atuação do Centro será nas áreas de linguística e antropologia e foca em três linhas principais: pesquisa e documentação, comunicação cultural e repositório.

O repositório digital online irá agregar as coleções provenientes dos projetos de pesquisa antropológicos e linguísticos desenvolvidos no Centro. A plataforma digital tem como objetivos principais garantir a proteção das coleções, facilitar o acesso às pesquisas e, sobretudo, ampliar a difusão dos materiais.

Além disso, o desenho da plataforma, sua curadoria e os níveis de acesso às coleções deverão ser guiados pelas práticas éticas e diretrizes elaboradas em conjunto com as comunidades de origem, incluindo ainda uma devolução pertinente dos materiais. 

Nesse sentido, a obra audiovisual inédita do artista Gustavo Caboco Wapichana, apresentada na ocasião do lançamento do Centro, reflete de maneira crítica sobre a relação entre as documentações e as culturas vivas das populações indígenas. O artista expõe a complexidade de se lidar com a fragmentação das histórias indígenas que são compartimentadas em gavetas muitas vezes inacessíveis e inteligíveis. Ao pesar arquivos de uma maneira indígenas, ele se pergunta: “o que cabe em nossos cestos se o arquivo é digital? A intenção de fortalecer a cultura, porém, permanece, assim como uma primeira resposta essencial: “arquivos só fazem sentido a partir da nossa presença, da presença indígena”. 

Em consonância com essas reflexões, o Centro objetiva estabelecer referências nacionais e internacionais na construção de coleções digitais de conhecimentos indígenas através de um constante diálogo com as comunidades envolvidas, que decidirão o quê deve ser registrado e como.
“Queremos constituir coleções para e com os povos indígenas a partir do consentimento prévio, livre e informado às comunidades indígenas parceiras e do diálogo permanente, respeitando os regimes de conhecimento desses povos, suas cosmologias e envolvendo-as nas decisões sobre as formas de registro, armazenamento, acesso e circulação das coleções”, destacam os organizadores. O objetivo principal é que o Centro possibilite que os povos indígenas construam acervos digitais em seus próprios termos. 

Conheça

https://linguaseculturasindigenas.org.br/
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