A materialidade da internet

Por Felipe Mamone

Todos os dias, acessamos uma infinitude de fotos, textos e áudios pelos nossos celulares. Você já parou para perguntar, no entanto, de onde todos esses dados vêm? Qual é a materialidade desses dados? Parando para pensar, é algo meio óbvio: apesar de os dados chegarem em nossos celulares sem nenhum tipo de fio, eles devem vir de algum lugar, certo? Mas de onde, exatamente?

Normalmente, quando consultamos um arquivo na “nuvem”, estamos na verdade nos conectando com grandes edifícios repletos de computadores conhecidos como data centers. Entre eles e nós, existe toda uma infraestrutura de cabos subterrâneos e submarinos, responsável pela esmagadora maioria do tráfego global de dados. É somente no fim desse longo trajeto que os arquivos chegam a uma torre ou a um roteador, que os converte em um sinal sem fio — como o 5G ou o Wi-Fi — que os nossos dispositivos captam e interpretam.

Apesar de ser a parte mais presente em nosso imaginário, essa etapa sem fio é apenas o último estágio de uma longa cadeia que envolve desde extrativismo mineral até conflitos geopolíticos. A cidade de Caucaia, no Ceará, por exemplo, se viu recentemente no centro das polêmicas dessa nova indústria: apesar de seu histórico de seca, o município está considerando a instalação de um data center com intensivo consumo de, justamente, água.

A discussão, porém, não para aí. Esses edifícios também representam um enorme consumo energético, são notórios consumidores de terras raras e podem causar uma interferência significativa nos territórios onde se fixam.

O estudo das redes através de suas materialidades tem precisamente esse efeito no nosso imaginário: a atenção sobre os impactos ecológicos, sociais e políticos de uma infraestrutura que, por décadas, permaneceu invisível.