ARQUIVO LÉSBICO BRASILEIRO (ALB): PRODUÇÃO E PRESERVAÇÃO DA MEMÓRIA LÉSBICA

Rian Souza

De acordo com o pesquisador Jack Halberstam, para a cultura queer, os arquivos têm funcionado como uma teoria de relevância cultural, uma construção de memória coletiva e um registro complexo da atividade da comunidade LGBTQIA+. A memória aparece como dispositivo na criação de laços, de um senso de hereditariedade, e assume feição de resistência às tentativas de apagamento, reiterando sua força política.

No entanto, entre acervos LGBTQIA+, quais dedicam-se exclusivamente à preservação da memória lésbica? Em um contexto de emergência de acervos que buscam preservar registros de diferentes expressões de gênero e sexualidade, percebemos que as iniciativas que focam na história lésbica se destacam pelo compromisso político com a luta feminista e o entendimento da particularidade da lesbianidade.

A ditadura militar marcou um período de inflexão à perseguição de dissidentes da  norma de sexo e gênero. Embora a normatividade e expectativas sociais tenham, ao longo do século XX, fomentado a criação de uma subcultura que hoje denominamos de LGBTQIA+, com espaços de sociabilização distintos e redes privadas de relacionamento, a ideologia conservadora do regime e a associação entre subversão política e perversão moral contribuíram para maior repressão da comunidade.

Em contrapartida, o Arquivo Lésbico Brasileiro (ALB) nasce com o objetivo de preservar registros históricos relativos às lesbianidades, oriundos do Brasil ou do exterior. O ALB é uma instituição sem fins lucrativos dedicada à preservação, difusão e democratização do acesso às memórias lésbicas. Dessa forma, ao dar proteção legal a todo tipo de registros das lesbianidades, busca combater o apagamento histórico da memória lésbica. 

A iniciativa de criar o Arquivo Lésbico Brasileiro (ALB) surgiu no segundo semestre de 2020, a partir do trabalho de pesquisadoras e ativistas lésbicas empenhadas em compartilhar os materiais que possuíam. Porém, compreendiam que a circulação dos materiais ainda era restrita e buscavam que qualquer pessoa interessada nas lesbianidades pudesse acessar os materiais. Dessa vontade nasceu o projeto de construção do acervo virtual de acesso público e gratuito.

O ALB também atua em outras frentes, promovendo cursos de formação e participando de debates e eventos sobre arquivos, memórias e ativismo. Além disso, buscam parcerias com entidades, acervos e instituições comprometidas com a defesa de grupos historicamente marginalizados.

CONHEÇA

https://periodicos.ufba.br/index.php/cadgendiv/article/view/55333

https://www.instagram.com/arquivolesbicobrasileiro