O Ministério das Relações Exteriores concluiu a digitalização de um conjunto inédito de documentos do Arquivo Histórico do Itamaraty, referentes ao tráfico transatlântico de pessoas escravizadas no século XIX. O material integra o acervo do Museu Histórico e Diplomático e reúne cerca de 25.877 páginas relacionadas a 160 navios negreiros interceptados por forças navais britânicas, brasileiras e de outros países, julgados pela Comissão Mista de Combate ao Tráfico em Serra Leoa (1815–meados do século XIX).

Esses registros detalham as condições a bordo das embarcações e revelam as estratégias políticas e jurídicas usadas para tentar legitimar a escravização. Longe de meros documentos administrativos, constituem testemunhos de violência sistêmica e ajudam a compreender como o comércio transatlântico de pessoas moldou a formação social, econômica e cultural do Brasil.

A disponibilização digital amplia o acesso público e transforma esse acervo em ferramenta de investigação crítica para pesquisadores de História, Direito, Relações Internacionais, Direitos Humanos e Memória Social. Ao mesmo tempo, permite que a sociedade brasileira se confronte diretamente com as marcas desse passado e com suas permanências no presente.

Ao trazer à luz estes documentos, a iniciativa reforça debates sobre reparação Mais do que um gesto de preservação, trata-se de reconhecer responsabilidades e de sustentar políticas de memória que apontem para justiça e igualdade racial. Nesse sentido, a digitalização e divulgação dos documentos digitalmente mostra-se também um instrumento político e ético: não apenas conservar arquivos, mas contribuir para que eles alimentem lutas contemporâneas por dignidade e reparação.

🔗 O acervo está disponível gratuitamente em: Itamaraty Digital