O Acervo Bajubá lança o “Arquivo Transformista”, um acervo digital público e gratuito dedicado a preservar e celebrar a memória da arte transformista em São Paulo. Antes de ser um repositório histórico, o projeto é uma tecnologia de memória dissidente, um gesto político que desafia os regimes normativos de gênero e sexualidade, reinscrevendo corpos que o tempo tentou apagar.
O projeto digital atua como uma forma de resistência queer que inventa outras temporalidades e modos de existir, configurando-se como um contrarquivo que subverte a linearidade e a lógica heteronormativa da história oficial. Compreende-se o arquivo como um organismo híbrido, onde humano, máquina e arte se entrelaçam na produção de saberes e memórias coletivas. Desta forma, o Arquivo Transformista não apenas preserva registros, mas fabrica alianças e mundos possíveis entre corpos e tecnologias.
O Arquivo Transformista reúne as trajetórias de Aloma Divina, Kelly Cunha, Gretta Starr, Marcinha do Corintho e Victoria Principal, artistas que fizeram da noite paulistana dos anos 1970 e 1980 um palco de invenção. A iniciativa documenta a vida noturna paulistana e reconhece estas artistas, em sua maioria mulheres trans e travestis, como protagonistas na história da cultura LGBT+ brasileira. Nesse espaço híbrido, o digital não apenas conserva, mas reinscreve presenças e reconfigura o sensível, fazendo do ato de arquivar uma prática política.
Com mais de 250 fotografias e depoimentos provenientes dos acervos pessoais das artistas, o projeto ergue um corpo coletivo tecido por luta e memória. Nesse contexto, arquivar torna-se um gesto de desobediência. Mais do que preservar, o acervo celebra e, ao celebrar, faz existir corpos que continuam a reinventar o mundo.
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